Venha entender um pouco sobre o que é este fenômeno dos microdramas e as iniciativas do governo chinês para regulamentar o setor
A Administração Nacional de Rádio e Televisão da China (NRTA) anunciou no dia 5 de fevereiro de 2025, novas diretrizes para a indústria de weiduanju (微短剧), microdramas online. A partir de agora, qualquer produção precisará de uma licença ou registro para ser transmitida e promovida. A medida faz parte de um esforço do governo chinês para regulamentar o setor e garantir um processo de revisão mais eficiente.
Os microdramas agora serão classificados em três categorias, com exigências distintas, de acordo com o investimento e alcance. As produções com maior investimento ou destaque precisarão passar por aprovação governamental, enquanto conteúdos menores ficarão sob responsabilidade das plataformas de streaming. Além disso, dramas com temas sensíveis, como política e segurança nacional, terão fiscalização ainda mais rigorosa.
- Microdramas de grande porte: aqueles com investimento acima de 1 milhão de yuans (cerca de R$ 700 mil), promovidos por plataformas de vídeo ou recomendados na página inicial dos apps precisarão passar por aprovação governamental.
- Microdramas de médio porte: com orçamento entre 300 mil e 1 milhão de yuans, também precisarão de registro e revisão, mas com exigências um pouco mais flexíveis.
- Microdramas menores: produções abaixo de 300 mil yuans serão fiscalizadas diretamente pelas plataformas de streaming, que devem garantir a revisão de conteúdo e o cumprimento das regras de direitos autorais.
As plataformas de vídeo estão proibidas de promover ou exibir essas produções sem licença ou registro. A regulamentação é outra estratégia do governo chinês de regulamentar a indústria do entretenimento digital, especialmente diante do crescimento acelerado e do impacto cultural dos microdramas.
A regulamentação impacta diretamente produtores, investidores e distribuidores de conteúdo digital na China. Com essa medida, o governo chinês buscaria equilibrar a inovação e o desenvolvimento do setor com um maior controle e supervisão sobre o que é produzido e exibido online.
Microdramas: A Nova Febre que Está Transformando o Entretenimento Digital
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| © Technode |
Os microdramas se tornaram uma verdadeira febre na China, especialmente no Douyin (a versão chinesa do TikTok) e no Kuaishou, onde milhões de usuários maratonam essas histórias curtas e envolventes todos os dias. Agora, essa tendência parece estar se expandindo rapidamente para o público internacional, conquistando cada vez mais fãs da cdramaland internacional.
Com roteiros envolventes, histórias muitas vezes sem compromisso com a realidade e episódios curtos de até 15 minutos, essas produções são feitas para prender a atenção desde o primeiro segundo. A narrativa ágil, os enredos intensos e os finais em aberto criam um efeito viciante, levando as pessoas a consumirem um episódio atrás do outro.
Além disso, o grande chamariz é o fato de que os microdramas se tornaram a alternativa perfeita para quem tem uma rotina corrida e não consegue acompanhar os tradicionais cdramas com episódios de 45 a 50 minutos.
Com a popularidade, os investimentos na área cresceram, e algumas produções já chegam a orçamentos milionários com o mercado de entretenimento digital rapidamente percebendo o potencial desses conteúdos.
Essas produções estão dominando plataformas de vídeos curtos como Douyin e Kuaishou, atraindo um público de 576 milhões de usuários em 2024. Em 2023, esse mercado movimentou cerca de 37,39 bilhões de yuans (aproximadamente 5,31 bilhões de dólares), um crescimento de 267,65% em relação a 2022, segundo apontamentos do site China Daily.
"Este número representa cerca de 70% das receitas anuais de bilheteira da indústria cinematográfica nacional no ano passado. Prevemos que, até o final de 2024, a escala geral da indústria de microdrama possa igualar a do mercado cinematográfico" (Wang Chen, chefe da divisão de microdrama da Douyin, segundo o China Daily).
Além disso, a rápida produção e os custos relativamente baixos tornam os microdramas uma opção bem atraente para investidores e produtores, permitindo retornos rápidos e substanciais. Sem mencionar que essas produções podem ser filmadas em poucos dias, facilitando uma rotatividade eficiente e lucrativa.
Além da popularidade, os microdramas também ganharam destaque por suas tramas ousadas e criativas, muitas vezes parecendo menos restritas pelas regulamentações chinesas aplicadas aos dramas convencionais. O interesse crescente foi tanto que a China agora tem até um reality show de atuação focado nesse formato: 开播短剧季 (algo como "Temporada de Lançamento de Dramas Curtos").
Cdramas Curtos como Oportunidade de Crescimento Para Atores
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| Em entrevista, Li Muchen (Daisy Li) declarou que foi uma decisão acertada trabalhar em microdramas pelo tempo dedicado ao trabalho e mais oportunidades. |
Sobre esta questão, uma entrevista com a atriz Li Muchen (Daisy Li) traz uma luz de como esse novo setor de produção de microdramas, não apenas está sendo atrativo para quem consome e quem produz: mas para quem atua também.
Li Muchen chamou atenção da cdramaland como protagonista de mini cdramas de sucesso de Provoke (2023) e Fortune Writer (2024) e foi na contramão dos seus colegas ao escolher trabalhar com microdramas em vez de cdramas longos convencionais, após perceber que o mercado de produções longas estava se tornando mais competitivo e incerto.
A atriz que atuou como coadjuvante em cdramas como The King's Avatar (2019), Rattan (2021) e A Dream of Splendor (2022), fez uma declaração muito interessante do porque ela fez essa escolha. Com papéis menores nos cdramas convencionais, ela optou pelos microdramas, onde o tempo de filmagem é bem mais curto e as oportunidades surgem mais rapidamente.
Segundo uma matéria do Dramapanda, a atriz explicou o porquê da escolha de fazer microdramas e explicou que, ao competir por papéis em cdramas longos (convencionais), ela enfrentava desafios como não ser protagonista, o pagamento menor e longos meses no set sem uma garantia de sucesso.
"Eu mudei para dramas curtos há cerca de dois anos. (...) Para atores de nível médio a baixo como eu, havia cada vez menos oportunidades. Se eu competisse por um papel em um drama longo, primeiro, poderia não ser uma boa opção para mim. Então, meu tempo no set provavelmente levaria quatro meses, e eu definitivamente não seria a protagonista, além do pagamento não ser tão bom, para ser honesta. Considerando minha idade agora, eu estava muito preocupada." - declarou Li Muchen.
A atriz, de 31 anos, acredita que sua decisão de se dedicar aos microdramas foi acertada, especialmente após o reconhecimento positivo de suas produções nesse formato, que oferecem mais visibilidade, oportunidades e resultados rápidos.
MICRODRAMAS OU MINIDRAMAS: QUAL A DIFERENÇA?
Os formatos de cdrama curto vêm ganhando espaço, mas há uma sutil diferença entre microdramas e minidramas.
Os microdramas são produções ultrarrápidas, com episódios de 1 a 15 minutos em média, projetados para viralizar em plataformas como o Douyin (TikTok chinês) e no Kuaishou. Com tramas aceleradas e cheias de reviravoltas, histórias mais intensas, eles prendem a atenção do público e incentivam maratonas.
Já os minidramas seguem um formato mais próximo dos dramas tradicionais, mas condensados, com episódios menores que variam entre 30 a 40 minutos em média. Embora mais curtos, mantêm uma narrativa estruturada e uma produção mais elaborada, sendo comuns tanto na TV quanto no streaming.
Enquanto os microdramas conquistam o público mobile, os minidramas são uma alternativa para quem busca histórias compactas, mas completas, sendo versões mais enxutas dos dramas tradicionais. Algo que conhecemos como minissérie.
Apesar disso, o termo duanju também é aplicado a minidrama, mas a cada dia estão fazendo essa diferenciação, deixando duanju para quando se refere a microdrama e mínǐjù para minidrama.
Microdramas (短剧, "duanju")
- Surgiram como um fenômeno recente nas redes sociais, especialmente no Douyin (TikTok) e Kuaishou.
- Os episódios são extremamente curtos, variando de 1 a 15 minutos cada.
- Focados em prender a atenção rapidamente, costumam ter narrativas intensas, aceleradas e viciantes.
- São pensados para o consumo mobile e muitas vezes utilizam estratégias de cliffhanger para incentivar maratonas.
- Exemplo: Maid's Revenge (2022), My Wife, My Boss (2023), Hi Mom (2024).
Minidramas (迷你剧 “mínǐjù”)
- São produções com menos episódios, mas com duração mais longa do que os microdramas, geralmente entre 30 a 40 minutos.
- Costumam seguir uma narrativa tradicional, mas condensada, mantendo qualidade de produção mais próxima dos dramas convencionais.
- São comuns tanto na TV quanto em plataformas de streaming.
- Exemplo: Reset (2022) e An Ancient Love Song (2023), Love in the Desert (2024).
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Ainda não está claro se os microdramas se tornarão um dos segmentos mais lucrativos da indústria do entretenimento chinês, mas o interesse crescente indica que eles vieram para ficar, o que chamou a atenção do governo para supervisionar este novo setor.
Segundo o site Xiahpop em 2022 e 2023, a NRTA já estava atuando em cima do setor, chegando a remover mais de 25.000 microdramas por terem conteúdo considerado “violento, vulgar e pornográfico”.
Essas produções curtas estão revolucionando a forma de consumir entretenimento, conquistando milhões de espectadores e criando novas oportunidades de monetização para plataformas e criadores. Além disso, a expansão internacional dessas produções aponta para um potencial ainda maior de crescimento e rentabilidade no futuro.
Para entender mais sobre esse fenômeno, você pode conferir o vídeo abaixo que explica um pouco sobre como os microdramas estão dominando as redes sociais chinesas (vídeo em inglês, mas você pode habilitar legendas automáticas):


